Descobrindo um autor: Victor Hugo

21:04 Carolina Carettin 0 Comments

Depois de ler que o livro Os Miseráveis se tornaria filme - musical, especificamente - e seria lançado aqui no Brasil só no ano que vem, corri para a prateleira e peguei o primeiro volume. Já tinha lido a adaptação para uma prova da escola, mas nunca lemos um livro da mesma forma, sempre deixamos alguma coisa passar e nossa ideia e percepção da vida se torna diferente com o passar do tempo.
Com isso, comecei a ler e raramente me viam sem ele por perto. Hoje já estou no segundo volume e pretendo terminar antes do lançamento do filme.
Somente pelo primeiro livro, descobri Victor Hugo. O escritor foi influenciado por François-René de Chateaubriand, famosa figura da escola romântica e figura proeminente da literatura francesa do começo do século XIX.
Os Miseráveis conta a história de Jean Valjean, Fantine, Cosette, Marius, o casal Thénardier ... Todos com suas histórias interligas numa trama de amor, mistério, suspense.
Já no começo do segundo volume, Marius envia uma carta a sua amada, Cosette. Segue:

“A redução do universo a uma única criatura, a dilatação de um único ser até Deus, eis o amor.
O amor é a saudação dos anjos aos astros. Como a alma é triste quando sua tristeza provém do amor!
Que vazio é a ausência do ser que sozinho encheria o mundo! Oh! Como é verdade que o ser amado se transforma em Deus. É fácil compreender como Deus sentiria ciúme se o Pai de todas as coisas não tivesse evidentemente feito a criação para a alma, e a alma para o amor.
Basta um sorriso entrevisto ao longe sob um chapéu de tule brando e coifa lilás, para que a alma entre no paraíso dos sonhos.
Deus está por trás de tudo, mas tudo a Deu esconde. As coisas são negras, as criaturas são opacas. Amar alguém é torná-lo transparente.
Certos pensamentos são verdadeiras preces. Há momentos em que, seja qual for a atitude do corpo, a alma está de joelhos.
Os amantes separados iludem a ausência por mil e uma quimeras que têm no entanto a sua realidade. Impedem-nos de se verem, interceptam-lhes as cartas; eles porém encontram meios misteriosos de se corresponderem: pelo canto dos passarinhos, o perfume das flores, o riso das crianças, a luz do sol, os suspiros do vento, o brilho das estrelas, a criação inteira. E por que não? Todas as obras de Deus são feitas para servir o amor. O amor é bastante poderoso para encarregar toda a natureza de levar-lhe as mensagens.
Ó primavera! Você é a carta que eu lhe escrevi.
O futuro pertence bem ais aos corações do que aos espíritos. Amar, eis a única coisa capaz de ocupar e encher a eternidade. Ao infinito convém o inesgotável.
O amor participa da própria alma. Tem a mesma natureza que ela.
Como a alma, é uma fagulha divina; como a alma, é incorruptível, indivisível, imperecível. É um ponto de fogo que está em nós, que é imortal e infinito, que nada pode limitar ou extinguir. Nós o sentimos queimar até a medula dos ossos e vemos brilhar até a imensidão dos céus.
Ó amor! Adorações! Prazer de dois espíritos que se compreendem, de dois espíritos que se confundem, de dois olhares que se penetram! Não é verdade que os hei de ter – ó felicidade! – passeios a dois na solidão, dias abençoados e brilhantes!
Às vezes chego a pensar que, de quando em quando, algumas horas se destacam da vida dos anjos e vêm até o mundo para atravessar a vida dos homens.
Deus nada pode acrescentar á felicidade dos que se amam senão tornando-os eternos. Depois de uma vida de amor, uma eternidade de amor é com efeito um acréscimo; mas aumentar em sua própria intensidade a felicidade inefável que o amor dá à alma desde este mundo, isso é impossível mesmo à Deus. Deus é a plenitude do céu; o amor é a plenitude do homem.
Contemplamos uma estrela por dois motivos: porque é luminosa e porque é impenetrável; e, no entanto, temos ao nosso lado um brilho mais suave e um mistério maior ainda, a mulher.
Todos nós, quem quer que sejamos, temos a necessidade de respirar. Se nos falta o ar, ficamos sufocados e morremos. Morrer por falta de amor é horrível. É a asfixia da alma.
Quando o amor fundiu e unificou duas almas, numa unidade angélica e sagrada, foi que ambas encontraram o segredo da vida; não são mais os dois termos de um mesmo destino, as duas asas de um mesmo espírito. Amem, flutuem! No dia em que uma mulher, passando a sua frente, iluminar o seu caminho, você está perdido: é o amor. Então só lhe restará uma coisa: pensar nela tão fixamente que ela se veja constrangida a pensar em você.
O que o amor começa não pode ser acabado senão por Deus.
O verdadeiro amor se desola e se encanta por uma luva perdida ou por um lenço encontrado, e precisa de uma eternidade para sua dedicação e esperanças. Ele se compõe, ao mesmo tempo, do infinitamente grande e do infinitamente pequeno.
Para o amor nada é bastante. Temos a felicidade, queremos o paraíso; temos o paraíso, queremos o céu.
Vocês que tanto se amam, tudo isso está no amor. Saibam encontrá-lo. O amor tem tanta contemplação como o céu, e mais do que o céu, tem o prazer.
[...]
Que tristeza não se saber o endereço da própria alma!
O amor tem infantilidades, as outras paixões têm mesquinhez. Vergonha ás paixões que tornam o homem mesquinho. Honra àquela que o faz criança!
É uma coisa estranha, sabem? Eu vivo na noite. Há alguém que, ausentando-se, levou consigo o céu.
Oh! Jazer um ao lado do outro no mesmo túmulo, de mãos dadas, e de quando em quando, nas trevas, acariciar docemente um dedo; isso bastaria para a minha eternidade.
Vocês que sofrem porque amam, amem mais ainda. Morrer de amor é viver.
Amem. A esse suplício alia-se uma sombria e entrelaçada transfiguração.
Há êxtase na agonia.
Ó alegria dos passarinhos! Eles cantam porque têm um ninho.
O amor é uma respiração celeste do ar do paraíso.
Corações profundos, espíritos sábios, recebam a vida como Deus a fez. É uma longa prova, uma preparação, ininteligível para um destino desconhecido.. Esse destino, o verdadeiro, começa para o homem no primeiro degrau que desce para o túmulo. Só então lhe aparece alguma coisa, e ele começa a distinguir o definitivo. O definitivo, pensem nessa palavra. Os vivos vêem o infinito; o definitivo só se deixa ver pelos mortos. Enquanto isso amem e sofram, esperem e contemplem. Desgraçado de quem não tiver amado senão os corpos, as formas, as aparências! A morte roubar-lhe-á tudo. Procurem amar as almas e tornarão a encontrá-las.
Encontrei pela rua um jovem muito pobre que amava. Seu chapéu estava velho, a casaca muito usada com os cotovelos rotos; a água passava através de seus sapatos e os astros através de sua alma.
Que grande coisa ser amado! Maior ainda é amar! O coração torna-se heróico à força da paixão. Ele não se compõe mais senão de pureza; não se apóia senão no que é nobre e grandioso. Um pensamento indigno nele pode germinar tanto quanto uma urtiga no gelo. A alma alta e serena, inacessível às paixões e às emoções vulgares, dominando as nuvens e as sombras deste mundo, as loucuras, os ódios, as vaidades, as misérias, mora no azul do céu, e não sente senão os abalos profundos e subterrâneos do destino, como o alto das montanhas sente os tremores da terra.
Se não houvesse quem amasse, o sol se extinguiria.

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