Ainda somos jovens, Renato

12:37 Carolina Carettin 0 Comments



Na última sexta-feira, estreou "Somos Tão Jovens", filme que conta a trajetória de Renato Russo antes da Legião Urbana. Assisti ao filme no domingo e, cara, quase chorei. Não tive oportunidade de ver a Legião se apresentando, nem de ver os discos serem lançados, mas meus pais me apresentaram a banda e eu simplesmente adoro. Fui ao cinema achando que me depararia com um quase documentário - como o Rock Brasília - mas não, não é um documentário. Quando li a crítica no Blog Histeria, me identifiquei e resolvi publicar aqui. E que venha "Faroeste Caboclo"!


Extraído do Blog Histeria.
No dia 3 de maio de 2013, pessoas acordaram ansiosas. Passaram o seus dias cantarolando as mesmas músicas, de uma mesma banda, de um mesmo compositor. Pra muitos, o relógio não andava, tudo estava devagar. A hora do filme não chegava.
Você já viu o título da postagem e já sabe do que estou falando. Mas se tivesse o texto sem o enunciado, acharia estranho tanto alvoroço por um filme. Afinal, é só mais um filme, né? Eu também estava pensando isso. Até assisti-lo.
O filme dirigido por Antonio Carlos da Fontoura e escrito por Marcos Bernstein fez muita gente pensar em muitas coisas. Pensar no passado, no presente e no futuro. No cinema vi casais mais velhos sorrindo com olhos brilhando, talvez lembrando das músicas do início do relacionamento ou algo do tipo. Vi jovens entusiasmados com a atitude de Renato Russo e seus amigos por enfrentarem a ideologia burguesa, sem falar da ditadura militar. Mas o que mais vi foram sonhos.
As pessoas não saíram do cinema normalmente depois de um filme qualquer. Elas saíram do cinema pensando. Poucas palavras. Muitos passos. Muitos sorrisos.
Comecei contando o final do filme, né? Mas não foi sem querer. Muitos filmes bons fazem isso. Dizem que é pra fazer o espectador querer assistir o resto do filme pra entender como chegou até ali. E agora eu vou contar pra vocês como chegou até aqui.

Thiago Mendonça vive Renato Russo. O famoso frontman da famosa Legião Urbana. Antes de Legião Urbana, o filme narra como Renato Russo iniciou a sua primeira banda, chamada Aborto Elétrico. O Punk Rock é abordado desde o início (coisa que me fez gostar do filme desde o pincípio), com letras e frases anti-burguesas, Renato Russo e seus poucos amigos divulgavam a liberdade de expressão por Brasília, e juntamente, a cena Punk Rock.
Os espectadores vibravam juntos. E um primeiro grande ponto do filme está aí: todos. O famoso idealismo da juventude, que a faz correr atrás de seus sonhos como se estivesse à um passo dela, estava em todo o cinema. Todos os mais velhos assistiam sorrindo e com olhos bem abertos. Provavelmente lembravam da época em que corriam atrás do que acreditavam com esse idealismo todo. O filme era inspirador. Não havia quem discordasse.
O filme também tem como um de seus focos a amizade entre Renato Russo e Aninha (interpretada por Laila Zaid). E que amizade. Aninha se preocupava demais com Renato, que na metade do filme ao “trair” a amizade dela, ele se redime e escreve a música “Ainda É Cedo” para ela. O momento que ele toca essa música foi um dos ápices do filme. O cinema caiu em prantos quando cantavam junto a música e entendiam – finalmente – a letra da música.
Um segundo ponto do filme foi esse: o perdão. Hoje vivemos num mundo cada vez mais rápido, mais supérfluo. Não temos tempo pra dizer um obrigado olhando nos olhos. Não temos tempo pra conhecer um amigo por dentro. E consequência disso é a dificuldade que as pessoas tem de pedir desculpas umas pras outras. Não perde-se tempo com sentimentalismo hoje em dia. É mais rápido procurar um outro amigo à concertar aquele. Afinal, não é essa a ideologia burguesa consumista? É sim. A mesma que Renato Russo critica até não aguentar mais.
Além disso, o filme fala também sobre a homossexualidade do Renato Russo. E da melhor forma possível: sem levantar bandeiras. Como Laila Zaid disse em entrevista, o filme trata da homossexualidade do Renato Russo como se fosse algo extremamente normal. Pois afinal: é normal.
Não possue uma grande conversa entre ele e a mãe quando ele se assume, não tem cenas de preconceituosos quando ele sai com um rapaz pela cidade, etc. Não tem lição de moral. É simplesmente um homem que se interessa por outros homens. O filme deixa claro que ele é gay. E também, deixa claro que era um grande homem. A melhor forma de se acabar com o preconceito é exatamente essa.
O filme vai passando, o Aborto Elétrico acaba, Renato Russo monta seu projeto solo tocando em pequenos shows da cidades suas músicas, e depois disso ele encontra pessoas para montar o Legião Urbana.
O filme cresce aí. As pessoas se entusiasmam. A atenção é redobrada. Todos ficam ansiosos pra saber como foi o primeiro grande show, os primeiros grandes estados, o primeiro programa de TV, etc. Enfim: como a banda cresceu.
Mas, revoltosamente, o filme acaba aí. A última cena é dos amigos brasilienses tomando uma cerveja e comemorando a partida do Legião Urbana para o Rio de Janeiro, pois iriam tocar no Circo Voador. Por fim, uma cena da Legião Urbana (a real Legião Urbana) tocando num show e fim.
O final me deixou revoltado. Como assim acabar agora?! Quando todas os problemas são resolvidos, quando tudo está pronto, quando a banda vai realmente crescer? Logo depois da minha revolta eu percebi que já tinham se passado uma hora e meia e que o filme era pra ter acabado ali. E não somente pelo horário mas também pelo conteúdo. Se fosse pra contar de forma cética como a banda cresceu, como foram as coisas, isso não seria um filme, mas sim um documentário. E, definitivamente, esse filme não foi um documentário. E principalmente não foi cético. Ele disse coisas que somente a arte poderia ter dito.
As pessoas não saíram do cinema normalmente depois de um filme qualquer. Elas saíram do cinema pensando. Poucas palavras. Muitos passos. Muitos sorrisos.
Mas interpretando seus semblantes, dava pra perceber que todo mundo que saía ali do cinema acreditando fielmente que ainda tinham todo o tempo do mundo.

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