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Repeteco: um livro sobre as escolhas que fazemos



Todo mundo já teve a vontade de apagar um dia ou uma semana ruim e fazer tudo de forma perfeita, sem problemas. Em Repeteco, de Bryan Lee O’Malley e publicado pela Companhia das Letras, Katie teve um dia do cão: seu ex namorado apareceu no restaurante onde ela é chefe, uma funcionária se acidenta na cozinha, o seu romance com um colega de trabalho azeda e a reforma de seu novo negócio está um caos.

Katie tem a oportunidade de ajeitar as coisas quando uma garota aparece em seu quarto no meio da noite com uma alternativa: ela pode arrumar tudo o que deu errado e ter uma segunda chance. O problema é que Katie se enrosca cada vez nessas pequenas viagens que faz entre os mundos possíveis e isso só acaba trazendo mais problemas.

Com seu humor característico, Bryan Lee O’Malley aborda no quadrinho assuntos como relacionamentos amorosos, sucesso profissional, espiritualidade e amizade. O autor também escreveu a série Scott Pilgrim, que foi adaptada para filme em 2010, com Michael Cera no papel principal.

Além do humor presente na história, o narrador e a personagem principal interagem a todo momento, o que traz leveza à história e aproxima o leitor da trama, fazendo-o se perguntar: “E se fosse eu? Aproveitaria essa oportunidade?”.

O traço de Bryan Lee O’Malley auxilia na construção dessa atmosfera leve e divertida. Seus desenhos são simples, fazendo com que as personagens (principalmente Katie) se assemelhem às crianças. É um traço semelhante ao de Scott Pilgrim, e quem já conhece o quadrinho reconhecerá o estilo característico de O’Malley em Repeteco também.

A mensagem que a história propõe não é nova, mas é sempre bom relembrar que, às vezes, precisamos viver alguns momentos ruins para crescermos e amadurecermos.

“Enclausurado”: novo livro de Ian McEwan inova com feto narrador


Milhares de livros são contados por narradores já nascidos, adultos. Alguns fogem do comum, porém, enquanto Machado de Assis nos apresentou a um narrador defunto em Memórias Póstumas de Brás Cubas, Ian McEwan faz exatamente o contrário: quem conta a história de Enclausurado (Companhia das Letras, 200 pág.) é um feto em seus últimos dias dentro da barriga.

A premissa de Enclausurado não é muito inovadora. A mãe do bebê, Trudy, planeja o assassinato de seu marido com seu amante, Claude. O feto ouve tudo e acaba se questionando qual seu papel em tudo aquilo. É cúmplice? Pode evitar de alguma forma que o crime aconteça?

Claramente inspirada em Hamlet de Shakespeare – observe os nomes dos personagens: Gertrudes e Trudy, Claudius e Claude -, a leitura vale mais pelo narrador do que pela trama. A sinopse da editora diz que Enclausurado “é uma amostra sintética e divertida do impressionante domínio narrativo de McEwan, um dos maiores escritores da atualidade”. Concordo. São as digressões e questões filosóficas e existenciais do bebê que tornam o livro bom.

O feto aprecia vinhos, é bem-humorado, divaga sobre como o pai e a mãe devem ser, maldiz Claude. Por não conhecer totalmente as personagens, o narrador vai construindo suas impressões junto com o leitor.

“No linguajar de minha mãe, espaço, sua necessidade de espaço, é uma metáfora retorcida, se não um sinônimo, de ser egoísta, malvada, cruel. Mas, espere, eu a amo, ela é a minha divindade e preciso dela. Retiro tudo o que disse! Falei por me sentir angustiado. Estou tão iludido quanto meu pai. É verdade. Sua beleza, distanciamento e determinação são inseparáveis”.

Além de lidar com o possível assassinato do pai, o bebê também sofre por causa do relacionamento sexual de sua mãe com o amante. Ele teme que os espermatozoides de Claude entrem em contato com ele, afetando sua inteligência, por exemplo. Divertido, mas perturbador.

Ao mesmo tempo, McEwan – que é inglês – aborda temas atuais como a crise de refugiados na Europa. Por exemplo, Trudy gosta de ouvir palestras e, por consequência, o bebê também ouve as constatações da palestrante para a humanidade. Se pode, até, traçar um paralelo entre a situação humana e a situação do bebê, que se sente incapaz de interferir no curso dos acontecimentos.

“A liberdade de expressão suprimida, a democracia liberal não mais o porto de destino, robôs roubando empregos, os direitos civis em combate feroz com a segurança, o socialismo em desgraça, o capitalismo corrompido, destrutivo e também em desgraça, nenhuma alternativa à vista”.

Enclausurado pode ser considerado um suspense, já que prende o leitor na resolução do crime, com toques cômicos e filosóficos. É um livro curto, que você devora em poucos dias, mas que continua ecoando depois que termina.

Resenha: O Irmão Alemão, Chico Buarque



O oitavo romance de Chico Buarque – se não contarmos as peças de teatro – chegou às livrarias em novembro de 2014. Em “O Irmão Alemão” (Companhia das Letras, 200 páginas), Chico conta a descoberta de um meio-irmão germânico. Uma história real misturada com ficção, característica que encanta, mas pode confundir o leitor.

Explico o porquê. O autor parte da existência real de um filho alemão de Sérgio Buarque de Holanda, seu pai, fruto de um romance com Anne Ernst na década de 30. O protagonista, Francisco de Hollander ou Ciccio, descobre uma carta de Anne esquecida – ou escondida – dentro de um livro da coleção de seu pai e passa a fantasiar sobre o destino de seu meio-irmão. Muitas vezes, a história real de Buarque e a inventada de Ciccio se confundem. A narrativa em primeira pessoa acompanha o fluxo de pensamento de Ciccio, que mistura cenários do passado, presente e futuro.

Enquanto Francisco tenta achar o paradeiro do irmão alemão e enfrenta o regime militar brasileiro, lida com seu pai, recluso colecionador de livro, e com as amantes de seu irmão brasileiro.

Calma, Ciccio, disse minha mãe, quando já crescido lhe perguntei por que meu pai não escrevia um livro, uma vez que gostava tanto deles. Ele vai escrever o melhor libro del mondo, disse arregalando os olhos, ma prima tem que ler todos os outros.
Para Carolina Araújo Pinho, do site Cheiro de Livro, a rapidez com que Chico transita entre uma situação e outra é, ao mesmo tempo, o melhor e o pior do livro. Concordo. O pior porque, muitas vezes, nos envolvemos de tal forma com a narrativa que, quando o corte acontece, a história torna-se confusa. É preciso parar a leitura para distinguir realidade de pensamento. E o melhor por tornar a história fácil de ser lida e cativante. Não se sentem as páginas, elas fluem, assim como a trama.


Porém, a possível confusão que pode acontecer durante a leitura não vence a interessante história apresentada por Chico. Até porque, enquanto presente, pensamos no futuro, fazemos planos e vivemos o que nem sabemos se acontecerá.

“Chico quis inventar-se ao ficcionar a vida. Não é sobre a vida do Chico, trata-se apenas de uma aproximação, a vida inventada que todos nós experimentamos(…).” – Raimundo Neto, para a São Paulo Review.

Lendo o Mundo: Anna Kariênina

Anna Kariênina faz parte do projeto Lendo o Mundo.

"Qualquer pessoa é capaz de se conservar horas sentada de pernas encolhidas, sem mudar de posição, desde que esteja certa de que nada a impedirá de o fazer. Mas, sabendo que é uma imposição, terá cãibras e as pernas, trêmulas, acabarão por se estender."
Anna Kariênina* foi uma imposição, de mim para eu mesma. Me deu cãibras, principalmente nos olhos que tentavam ficar abertos.

O romance de Tolstói funciona como uma novela: vários núcleos que se entrelaçam. Todos os personagens têm alguma ligação entre si. Seja familiar ou de amizade. Stephan Oblonski (ou Oblonsky), irmão de Anna, está passando por uma crise em seu casamento depois que sua esposa, Darya, descobriu que ele a traiu. Para acalmar os ânimos e convencer Darya de que era preciso salvar seu casamento, Anna faz uma visita à família. 

Ironicamente, Kariênina conhece, no trem a caminho da casa de seu irmão, o Conde Vronski, por quem se apaixona quase que imediatamente. Este, no entanto, está interessado na jovem Kitty, irmã de Darya.
Percebe como o conflito de todos os personagens se conectam e se misturam? Amor, traição e hipocrisia são apenas algumas temáticas do romance. 
— Surpreende-me que os pais consintam. É um casamento de amor, segundo ouço dizer.
— De amor? — exclamou a embaixatriz — Onde foi colher essas ideias antediluvianas? Quem fala em amor nos nossos dias? 
— Que quer, minha senhora? — disse Vronski — Essa velha moda ridícula ainda não acabou de todo.
— Tanto pior para os que ainda a usam! Em matéria de casamentos, só conheço uma espécie feliz o casamento de conveniência.
— Pode ser, mas, em troca, a felicidade desses casamentos muitas vezes desfaz-se em pó justamente porque surge o amor, no qual não acreditavam — replicou Vronski.
Não podemos esquecer que o romance se passa no século XIX e Anna não é bem-vista quando decide arriscar seu casamento e a guarda de seu filho para ficar com Vronski. Para complicar, seu marido é oficial do governo, o que aumenta a pressão social na decisão que Anna deve tomar.

Este, porém, não é o conflito principal do livro. Todos os núcleos têm peso, praticamente, equivalente. Lembram-se de Kitty? Com Vronski interessado em Anna, uma mulher mais madura, Kitty se encontra perdida. Ela protagoniza outro conflito baseado em questões amorosas com Kostya Levin (ou Lievin).

Um dos pontos que pode confundir o leitor são os nomes e apelidos que os escritores russos utilizam em suas histórias. Stephan é chamado de Steve e Stiva. Darya é Dolly; Kitty é Katerina. O filho de Anna, Sergei, é carinhosamente chamado de Seryozha, quase impronunciável. Não é confusão semelhante a que acontece em Cem Anos de Solidão, em que vários personagens têm o mesmo nome. Aqui, cada um tem, pelo menos, dois nomes pelos quais o autor se refere. Difícil guardar todos eles, principalmente por serem tão difíceis de serem pronunciados.

"Todas as famílias felizes são iguais. As infelizes o são cada uma à sua maneira."
Tantos nomes e descrições longas (e às vezes inúteis) fazem de Anna Kariênina uma experiência não tão prazerosa. Divagações de alguns personagens, como Levin, chegam a ser chatas e maçantes. Das 654 páginas, muitas poderiam ser retiradas sem afetar em nada a história. As edições brasileiras têm alguns problemas de tradução, o que não é culpa do autor, mas ajuda o leitor a não gostar do livro. A que li tem letras miúdas que deixam a leitura cansativa.

Não culpemos Tolstói por minha experiência com Anna Kariênina. Fui com expectativas altas depois de ver o filme com Keira Knightley no papel de Anna. Talvez devesse ter começado por contos, com doses homeopáticas de literatura russa antes de embarcar num romance de quase 700 páginas

*Na edição lançada pela Cosac Naify, em 2010, lê-se Anna Kariênina. Em outras edições, temos Ana Karênina ou Anna Karenina. O nome do autor também foi traduzido de várias maneiras: Liev, Leo, Leon e Tolstói ou Tolstoy. Use a que quiser.




Lendo o Mundo: Incidente em Antares

Diogo Vilela, Elias Gleizer, Paulo Betti, Fernanda Montenegro, Rui Resende, Marília Pêra e Gianfrancesco Guarnieri em Incidente em Antares (TV Globo, 1993)


"Em dezembro de 1963, uma sexta-feira 13, a matriarca Quitéria Campolargo arregala os olhos em sua tumba, imaginando estar frente a frente com o Criador. Mas logo descobre que está do lado de fora do cemitério da cidade de Antares, junto com outros seis cadáveres, mortos-vivos como ela, todos insepultos. Uma greve geral na cidade, à qual até os coveiros aderiram, impede o enterro dos mortos. Que fazer? Os distintos defuntos, já em putrefação, resolvem reivindicar o direito de serem enterrados - do contrário, ameaçam assombrar a cidade. Seguem pelas ruas e casas, descobrindo vilanias e denunciando mazelas. O mau cheiro exalado por seus corpos espelha a podridão moral que ronda a cidade."


O último romance do escritor gaúcho Érico Veríssimo, Incidente em Antares, foi publicado em 1971, em plena ditadura militar. Mesmo sendo uma sátira política, o livro não foi submetido à censura. No livro “Livros contra ditadura”, de Flamarion Maués, o autor explica que a censura de livros nesse período dependia de denúncias, já que era impossível editar e fiscalizar todos os livros que eram lançados.

Mas que tanto fala de política esse livro, minha gente? Vamos lá.

Érico Veríssimo nos conta a história de Antares, uma pequena cidade do Rio Grande do Sul. Nela, há duas famílias influentes, os Campolargo e os Vacariano, que praticamente mandam e desmandam na cidade.

Na primeira parte, o autor contextualiza a história com os períodos históricos e políticos pelos quais o Brasil passou: proclamação da República, Era Vargas e assim por diante. Os fatos verídicos vão servir de pano de fundo para o desenvolvimento do romance. É praticamente uma aula de História (só que mais divertida, caso você não goste da disciplina).

O incidente vem a acontecer na segunda parte do romance. Os trabalhadores da cidade aderem à greve geral e o caos se instala na cidade quando sete pessoas morrem, incluindo Dona Quitéria, a matriarca dos Campolargo. Os coveiros, em greve, impossibilitam o enterro dos defuntos e cercam o cemitério.
Naquela noite, os mortos não sepultados ganham “vida” e passam a revelar os podres da cidade. Uma ironia, já que eles estão apodrecendo e cheios de moscas em volta de seus corpos. Mortos, eles estão livres das convenções sociais e podem dizer o que bem pensam sobre quem quiserem.

"A progressão social repousa essencialmente sobre a morte. Os vivos são sempre e cada vez mais governados pelos mortos."

Segundo Fernando Maurílio, mestre em Teoria Literária, “(...) a cidade de Antares tem efeito metonímico: trata-se da América Latina, com seu sistema político colonizado e corrupto; do Brasil, que acrescenta a esse sistema o dado ditatorial; e, por fim, do Rio Grande do Sul, que contribui com personagens e ideologia fundamentados em uma tradição local coronelista, patriarcalista e machista. O que os mortos denunciam na praça pública – espaço democrático por excelência – é resultado daquele sistema político colonizado e corrupto, que permite os outros desvios, fazendo com que a metonímia retorne ao seu ponto de partida e complete a alegoria.” O livro pertence ao período do neorrealismo brasileiro, sendo um romance regional com temática social muito forte.

"Desta vez abri a veia da sátira e deixei seu sangue escorrer livre e abundantemente." - Érico Veríssimo

Incidente em Antares é envolvente, engraçado, verdadeiro e ainda nos faz refletir sobre o nosso atual governo. Muitas semelhanças são encontradas entre governos passados e o cenário político em que vivemos hoje.

Lendo o Mundo: Vou-me embora pra Macondo

E aí eu comecei a fazer vídeos literários, mas eles saíram do YouTube por uma força maior. Os textos, ficaram.
O projeto que estou participando é o Lendo o Mundo, baseado no A Year Reading the World. Confira a resenha de Cem Anos de Solidão:



Do autor vencedor do Prêmio Nobel de Literatura Gabriel García Márquez, Cem Anos de Solidão é uma história intrigante e fantástica.
O romance conta como o vilarejo de Macondo foi fundado pelos Buendía e por outras famílias. José Arcadio Buendía e Úrsula Iguarán são patriarca e matriarca da família. Eles têm filhos, que terão filhos e a história se desenrola em torno desses personagens, todos ligados por sangue.
Por ser considerado do gênero Realismo Fantástico, há elementos fantásticos, porém sutis, que funcionam como alegorias para o conformismo ou o modo de percepção do tempo daquela população. Todos esses momentos fantásticos são vistos com banalidade pelos personagens, o que faz com que pareçam mais verossímeis. 
O tempo também é questão importante do romance. Ele é cíclico, mítico, fora do tempo e do espaço dos homens. Úrsula diz em certa parte que:

“Ao dizê-lo, teve consciência de estar dando a mesma resposta que recebera do Coronel Aureliano Buendía na sua cela de sentenciado e mais uma vez estremeceu com a comprovação de que o tempo não passava, como ela acabava de admitir, mas girava em círculo.”

É o mito do eterno retorno, o labirinto de Minotauro. Uma geração sai de um determinado lugar e a próxima geração chegará a esse mesmo ponto.
Algo que contribui para que o leitor perceba essas voltas do tempo são os nomes dos personagens. Algumas árvores genealógicas dos Buendía podem ser encontradas na Internet. Eu fiz a minha, mas você deve deixar-se perder entre os personagens, consultando-a em poucos momentos. Sinto que enganei um pouco o autor. Desculpe-me, Gabo.

Cheio de acontecimentos inusitados ou nem tanto, Cem Anos de Solidão também pode ser interpretado como uma metáfora do isolamento da América Latina. Pode-se perceber semelhanças com o período de colonização da América Latina ou até períodos mais recentes da História, como as ditaduras militares do Brasil e Chile, por exemplo.
A cidade de Macondo foi inspirada em Arataca, local onde nasceu García Márquez. Seus personagens foram baseados em pessoas que lá viveram. Em certo ponto do livro, uma companhia estrangeira, a Companhia Bananeira, chega a Macondo. A empresa é protagonista de uma das passagens mais fortes do livro, também baseada em um fato real. Se você quer saber mais, leia aqui.
Outro ponto que chama a atenção é a impotência dos homens e a força que García Márquez dá a suas personagens femininas. Úrsula é quem resolve os problemas, enquanto o marido se encanta com as invenções que os ciganos trazem à cidade, por exemplo.

“(…) nenhum dos seus descendentes herdara a sua fortaleza.”

Em artigo da Revista Bula, lê-se que “Macondo muito se assemelha com sua cidade natal, Aracataca. Os Buendía têm muito a ver com os Márquez.” E “(…) é verdade que coisas muito parecidas com essas foram contadas por seus avós. E elas rechearam a imaginação de García Márquez e se fizeram presentes no retrato da genealogia da família Buendía(…).”
Gabriel García Márquez conseguiu transformar uma história de seu microcosmo, tornando-a universal. Um livro sobre solidão de um, de uma família, de muitos, de um continente e de um mundo inteiro.


Les Misérables


"At the end of the day, there's another day dawning,
and the sun in the morning is waiting to rise." 
"Ao fim do dia, há outro dia surgindo e o sol na manhã está esperando para nascer."

Ontem assisti ao indicado ao Oscar "Os Miseráveis", adaptação do romance de Victor Hugo. O musical, que tem direção de Tom Hooper, que abusa de cenas angulares; conta a história de Jean Valjean, interpretado por Hugh Jackman. 
Jean Valjean, ex-presidiário, se vê na miséria quando não consegue arrumar um emprego depois que sai da prisão. Quando recebe a chance de recomeçar, conhece Fantine (Anne Hathaway), que passa pela mesma situação que ele passara há anos atrás. É com Anne Hathaway que temos um dos grandes momentos do filme, com a canção I Dreamed a Dream, aquela da Susan Boyle. Dando um show de interpretação, Anne se entrega ao sofrimento de sua personagem e envolve o público.
E é para ela que Jean Valjean faz uma promessa: achará sua filha, Cosette, e cuidará dela como se fosse do seu próprio sangue. Então ele sai em busca de Cosette, que mora num vilarejo com um casal, os Thénardier, que dão à trama um lado cômico. 
Enquanto isso, o inspector Javert (Russell Crowe) não se cansa de procurar o fugitivo número 24601, Jean Valjean. 
Nesse contexto, surge a revolução do povo, onde um jovem rebelde, Marius Pontmercy; divide seu coração entre Cosette e a pátria.
Decididamente, "Os Miseráveis" é um dos destaques do ano, talvez da década. Uma super produção, com um super elenco e uma trilha sonora eletrizante. Vale a pena!


"When the beating of your heart
Echoes the beating of the drums
There is a life about to start
When tomorrow comes!"
"Quando as batidas do coração,
Ecoam a batida dos tambores,
Há uma vida que se iniciará
Quando o amanhã chegar!"

O Labirinto do Fauno



“Reza a lenda que há muito, muito tempo, no reino subterrâneo onde não existe a mentira nem a dor, vivia uma princesa que sonhava com o mundo dos humanos. Sonhava com o céu azul, a brisa suave e o sol brilhante. Um dia, burlando toda a vigilância, a princesa escapou. Uma vez no exterior, a luz do sol a cegou e apagou de sua memória qualquer indício de seu passado. A princesa esqueceu quem era e de onde veio. Seu corpo sofreu com frio, doenças e dor, e com o passar dos anos, morreu. Entretanto, seu pai, o rei, sabia que a alma da princesa regressaria, talvez em outro corpo, ou outro tempo e lugar, e ele a esperaria até seu último suspiro, até que o mundo deixasse de girar...”



O Labirinto do Fauno, de Guilherme del Toro, é um filme espanhol de 2006, que retrata a história de Ofelia, uma menina que se vê barrada pelo padrasto, general da Espanha fascista na II Guerra Mundial, para poder sonhar com um mundo de fantasias.
Ela se depara com um labirinto no lugar onde passa a morar com a mãe, que espera um filho do general Vidal. É ali, nesse labirinto que vive um fauno, que sabe que Ofelia não pertence àquele mundo, mas sim ao subterrâneo, onde seu pai, o Rei, a espera.
A menina, então, deve cumprir algumas tarefas para poder retornar ao seu mundo que se torna muito mais atrativo aos seus olhos. Entre uma tarefa e outras, nos deparamos com o desenrolar da revolução comunista, dos chamados Vermelhos.
É com muito lirismo e violência que Guilherme del Toro nos conta essa fascinante história mágica, cheia de mistérios e transformações.


"E foi dito que a Princesa retornou ao reino de seu pai. E que ela reinou com justiça e bondade por muitos séculos, que ela foi amada por seus súditos, que deixou para trás pequenos traços de sua passagem pelo mundo... visíveis apenas para aqueles que sabiam onde procurar."

Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças



SinopseJoel (Jim Carrey) e Clementine (Kate Winslet) formavam um casal que durante anos tentaram fazer com que o relacionamento desse certo. Desiludida com o fracasso, Clementine decide esquecer Joel para sempre e, para tanto, aceita se submeter a um tratamento experimental, que retira de sua memória os momentos vividos com ele. Após saber de sua atitude Joel entra em depressão, frustrado por ainda estar apaixonado por alguém que quer esquecê-lo. Decidido a superar a questão, Joel também se submete ao tratamento experimental. Porém ele acaba desistindo de tentar esquecê-la e começa a encaixar Clementine em momentos de sua memória os quais ela não participa.

Brilho Eterno nos conta não só a história de Joel e Clementine, mas de várias pessoas que não conseguem esquecer outras pessoas que amaram. Não conseguem ou não querem esquecê-las?
Esse é o ponto principal do filme: conseguir esquecer e querer esquecer. Nem sempre podemos deixar o que passamos com alguém de lado, porque aqueles momentos nos fizeram tão felizes, neles aproveitamos coisas novas que simplesmente não devem ser esquecidas.
Nossas memórias existem para que possamos aprender com elas, por isso, mesmo sem lembranças, o brilho de nossa mente é eterno, pois lá no fundo existem momentos, pessoas, conversas que não podemos esquecer porque elas nos construíram de alguma forma e perdê-las significaria perder uma parte de nós mesmos.

"Quão feliz é o destino de um inocente sem culpa.
O mundo em esquecimento pelo mundo esquecido. 
Brilho eterno de uma mente sem lembranças. 
Cada orador aceito e cada desejo renunciado."
Alexander Pope

As vantagens de ser infinito

O livro - e o filme - de Stephen Chbosky deveria se chamar "As Vantagens de Ser Infinito" e não "... Invisível", já que em nenhum momento da história os personagens se tornam invisíveis. Com uma trama simples, Chbosky nos apresenta Charlie, um garoto quieto que se prepara para o colegial.
Quando consegue fazer amizade com dois veteranos, Sam e Patrick, ele começa a sentir que pertence a algum lugar. Eles são o retrato da liberdade, do infinito. Nós somos infinitos.
A trilha sonora é para quem gosta de música boa: tem The Smiths e mais um monte de gente legal, que você, se não conhece, aprende a gostar.
Segue trailer:




A Culpa é das Estrelas

Quando lemos livros que falam sobre pacientes com câncer esperamos histórias tristes, que nos mostra a grande batalha que os pacientes têm com a doença e tudo o mais. Em "A Culpa é das Estrelas", de John Green, lançado pela Editora Intrínseca esse ano, somos apresentados à garota Hazel Grace, ou só Hazel.
Durante a narrativa, John consegue que o leitor se esqueça que sua personagem está doente ou que tem certas limitações devido a seu aparelho de respiração portátil, o Felipe. O autor consegue essa proeza ao 1) conseguir que Hazel viaje até a Holanda em busca de respostas para seu livro favorito que termina no meio de uma frase, deixando-a cheia de questionamentos sobre o destino dos outros personagens e 2) quando ela se apaixona por Augustus Waters, o Gus.
Os jovens tem medo do envolvimento pelo fato de que podem "explodir como uma granada e deixar feridos." Mesmo assim se apaixonam e vivem esse amor até o último momento.
Posso dizer que é um livro diferente porque em momento algum eu chorei, e olha que isso é dificílimo! Em nenhuma parte do livro meus olhos se encheram de lágrimas e comecei a soluçar. Me emocionei, é claro, mas senti que a vida deles tinha sido tão aproveitada que não era necessário chorar.
(Para acabar com o suspense: não, Hazel não morre.)
E é exatamente isso que os pacientes com câncer procuram: uma vida normal, já que são pessoas normais, apenas com células rebeldes mutantes.
Quando minha tia, que perdeu para suas células mutantes um fígado e um pâncreas, estava em seus últimos dias (só não sabíamos que eram seus últimos dias) sentia como se ela divagasse em certos momentos. Seu olhar se perdia e eu ficava observando seu pensamento através de seus olhos. Para mim ela pensava na morte, como seria, onde ela gostaria de estar, com quem gostaria de estar. Acho que não aconteceu nem no lugar nem na companhia de quem ela desejava, mas foi na hora certa.
"A Culpa é das Estrelas" me proporcionou uma nova perspectiva, em você pode proporcionar as lágrimas, as risadas (eu ri muito!), o desespero, mas alguma coisa ele vai deixar marcado em você.

Amélie Poulain

Numa aula de Filosofia tivemos que escrever um resenha crítica do filme "O Fabuloso Destino de Amélie Poulain". Eu gostei e o professor também, então quis postar.

Vendo a vida de Amélie, de uma forma tão colorida e eletrizante, percebemos que todos temos particularidades e que com pequenos atos podemos mudar a visão de vida de alguém.
Ela ajuda seu pai, completamente distante, à sair pelo mundo. Mostra à um senhor cego que ele aind apode enxergar, mas agora com outros olhos. E faz tudo isso de forma pouco óbvia, sempre tendo uma grande estratégia por trás.
Enquanto tenta ajeitar a vida das pessoas que a cercam, se depara com o amor e, não sabendo lidar com isso; pede, indiretamente, ajuda de seu amigo pintor.
Correndo atrás do seu destino, sem ficar esperando que ele aconteça, Amélie consegue encontrar sua própria felicidade, dentro de seu mundo de fantasias.

Carolina Carettin.