Sobre Maria Júlia, o racismo e a educação

18:32 Carolina Carettin 1 Comments



Na minha sala de Jornalismo só há três alunos negros. Três em trinta. Na escola, os números eram menores ainda. A única amiga negra que tinha quando criança fazia ballet comigo, não era da escola. Os comentários preconceituosos feitos à jornalista Maria Júlia Coutinho, do Jornal Nacional, refletem porquê o ambiente escolar e familiar deve discutir questões raciais, sexuais, de gênero, sociais, políticas. 

Não, não precisa haver uma matéria na grade escolar. O debate deve acontecer normalmente, naturalmente, porque é assim que funciona. Numa aula de literatura, quantas questões um livro pode trazer? Vamos apresentar romances homossexuais para crianças e jovens. Vamos reforçar às crianças que todos somos iguais, que todos têm seus direitos assegurados por lei.

Mais uma vez: não, isso não vai fazer seu filho virar gay. Ninguém se torna homossexual. Não há cura, porque não é uma doença. Pulando essa parte didática, medidas de inclusão desses temas nas escolas ajudariam na aceitação do outro e de si mesmo. 

Imaginem uma criança que não se sente bem com seu corpo. Uma criança que nasceu com formas que a fizeram entrar na caixinha do HOMEM, mas que se sente como uma garota. Não é porque ela tem um pênis que não pode se sentir assim. Imaginou? Daí essa criança não consegue se abrir com os pais, tem medo. Porém, na escola, os professores debatem essas questões. Essa criança teria maiores condições de aceitar sua real identidade. É conhecimento.

Outro dia uma bailarina negra, a Misty Copeland, foi promovida a primeira bailarina do American Ballet Theater. É a primeira em 75 anos. Mais uma vez, nos comentários de redes sociais (esses malditos comentários) um rapaz questiona o porquê de ressaltarem que a bailarina era negra, pois o racismo começava justamente ali. Se ela ser a primeira bailarina negra a alcançar esse posto numa companhia em 75 anos não significar nada para você, me desculpe, mas há algo errado. Num meio majoritariamente branco (lembram que citei o ballet lá em cima?) essa promoção foi um grande passo. Um enorme passo. 

Quantas meninas negras - e meninos também - cresceram assistindo a ballets clássicos que não tinham nenhum bailarino negro? Quantas Marias Júlias não estão nas salas de Jornalismo pensando "Ela conseguiu. Chegou lá, então eu também consigo." 



Um dos comentários no post do Jornal Nacional diz que pessoas que falam essas coisas escabrosas não aceitam que seus porteiros, empregadas domésticas, seguranças estejam estudando, por exemplo. Se não eles, seus filhos têm uma chance maior de conseguir estudar. Quando o negro morre nas mãos da polícia, muitos aplaudem. Quando o negro atinge um posto de reconhecimento público, o de presidente por exemplo, muitos xingam. 

1 comentários:

mulher forte disse...

Parabéns Carol, lindo texto