As pipas no Afeganistão

09:30 Carolina Carettin 0 Comments

O Caçador de Pipas faz parte do projeto Lendo o Mundo.

O Caçador de Pipas, de Khaled Hosseini, foi lançado em 2003 pela Editora Nova Fronteira. Nele conhecemos Amir e Hassan, dois garotos que cresceram juntos apesar da diferença socioeconômica entre suas famílias.
Enquanto Amir é rico e filho de uma importante figura do Afeganistão, Hassan não sabe ler nem escrever, mas é conhecido por sua extrema bondade e coragem. São personagens antagônicos que se completam, como você e seu melhor amigo: há semelhanças, mas muitas diferenças que fazem a amizade ficar mais interessante.
Tradição no país, um campeonato de pipas, em 1975, marca o início de uma nova fase no relacionamento dos dois meninos. Amir e Hassan formavam uma dupla no campeonato. O primeiro empinava a pipa, enquanto o segundo ia soltando a linha. Assim, quando Amir consegue derrubar a última pipa no ar, Hassan sai correndo para buscá-la. A última pipa derrotada era o maior prêmio que qualquer garoto de Cabul poderia ter.

"Por você, eu faria isso mil vezes".

Acontece que, no caminho, Hassan é interceptado por um grupo de garotos que acabam abusando dele sexualmente. Nessa altura da história, Amir já tinha saído em busca do amigo e acaba vendo toda a cena, sem interferir. A culpa e o remorso fazem Amir tomar decisões equivocadas e ferir tanto Hassan quanto seu pai. 
Em 1979, a União Soviética invade o Afeganistão e Amir e seu pai, Baba, fogem para os Estados Unidos. A invasão durou dez anos e aconteceu no contexto da Guerra Fria. Entre 850.000 e 1.500.000 afegãos morreram no conflito. De cinco a dez milhões se refugiaram no Paquistão ou no Irão e outros dois milhões ficaram desalojados no país.
"Depois que os vários grupos de resistência contra a ocupação soviética tomaram Cabul, em 1992, houve um período marcado por lutas internas e guerras civis. Em 1994, o Talibã surgiu como uma alternativa caracterizada pela predominância pachtun e pelo rigor religioso extremo, criando na população expectativas de que acabaria com o constante estado de guerra interno e com os abusos dos senhores da guerra. Controlando noventa por cento do Afeganistão por cinco anos, o regime talibã, que se chamava o "Emirado Islâmico do Afeganistão", ganhou o reconhecimento diplomático de apenas três países: Paquistão, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos. Tinha, como objetivo declarado, impor a lei islâmica e alcançar um estado de paz."

"Existe apenas um pecado, um só. E esse pecado é roubar. Qualquer outro é simplesmente a variação do roubo. Quando você mata um homem, está roubando uma vida. Está roubando da esposa, o direito de ter um marido, roubando dos filhos um pai. Quando mente, está roubando de alguém o direito de saber a verdade. Quando trapaceia, está roubando o direito à justiça [...]".

É nesse contexto que Amir volta ao país, depois de tantos anos para se redimir de seus erros do passado.
Segundo o autor, O Caçador de Pipas não tinha o intuito de ser dramático, mas era inevitável usar como pano de fundo a guerra e a política. "Era uma janela para a vida no país. Não sentei para escrever com essa intenção, mas o livro cumpriu essa missão mesmo assim. O lado humano do Afeganistão não aparece no noticiário, só há guerra e violência", afirmou em entrevista à Época.
Khaled também se mudou para os Estados Unidos quando era adolescente e viveu como exilado por muitos anos. A relação dele com seu país natal é a mesma de Amir, o que contribui muito para a história do livro.
Demorei muitos anos para ler O Caçador de Pipas. Provavelmente, a história não será novidade para ninguém (até porque adaptaram-no para o cinema em 2007), mas se você não leu ainda, corre que vale muito a pena.


* A leitura desse livro faz parte do Projeto Lendo o Mundo e também do Rory Gilmore Book Project.

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