Lendo o Mundo: Anna Kariênina

10:04 Carolina Carettin 0 Comments

Anna Kariênina faz parte do projeto Lendo o Mundo.

"Qualquer pessoa é capaz de se conservar horas sentada de pernas encolhidas, sem mudar de posição, desde que esteja certa de que nada a impedirá de o fazer. Mas, sabendo que é uma imposição, terá cãibras e as pernas, trêmulas, acabarão por se estender."
Anna Kariênina* foi uma imposição, de mim para eu mesma. Me deu cãibras, principalmente nos olhos que tentavam ficar abertos.

O romance de Tolstói funciona como uma novela: vários núcleos que se entrelaçam. Todos os personagens têm alguma ligação entre si. Seja familiar ou de amizade. Stephan Oblonski (ou Oblonsky), irmão de Anna, está passando por uma crise em seu casamento depois que sua esposa, Darya, descobriu que ele a traiu. Para acalmar os ânimos e convencer Darya de que era preciso salvar seu casamento, Anna faz uma visita à família. 

Ironicamente, Kariênina conhece, no trem a caminho da casa de seu irmão, o Conde Vronski, por quem se apaixona quase que imediatamente. Este, no entanto, está interessado na jovem Kitty, irmã de Darya.
Percebe como o conflito de todos os personagens se conectam e se misturam? Amor, traição e hipocrisia são apenas algumas temáticas do romance. 
— Surpreende-me que os pais consintam. É um casamento de amor, segundo ouço dizer.
— De amor? — exclamou a embaixatriz — Onde foi colher essas ideias antediluvianas? Quem fala em amor nos nossos dias? 
— Que quer, minha senhora? — disse Vronski — Essa velha moda ridícula ainda não acabou de todo.
— Tanto pior para os que ainda a usam! Em matéria de casamentos, só conheço uma espécie feliz o casamento de conveniência.
— Pode ser, mas, em troca, a felicidade desses casamentos muitas vezes desfaz-se em pó justamente porque surge o amor, no qual não acreditavam — replicou Vronski.
Não podemos esquecer que o romance se passa no século XIX e Anna não é bem-vista quando decide arriscar seu casamento e a guarda de seu filho para ficar com Vronski. Para complicar, seu marido é oficial do governo, o que aumenta a pressão social na decisão que Anna deve tomar.

Este, porém, não é o conflito principal do livro. Todos os núcleos têm peso, praticamente, equivalente. Lembram-se de Kitty? Com Vronski interessado em Anna, uma mulher mais madura, Kitty se encontra perdida. Ela protagoniza outro conflito baseado em questões amorosas com Kostya Levin (ou Lievin).

Um dos pontos que pode confundir o leitor são os nomes e apelidos que os escritores russos utilizam em suas histórias. Stephan é chamado de Steve e Stiva. Darya é Dolly; Kitty é Katerina. O filho de Anna, Sergei, é carinhosamente chamado de Seryozha, quase impronunciável. Não é confusão semelhante a que acontece em Cem Anos de Solidão, em que vários personagens têm o mesmo nome. Aqui, cada um tem, pelo menos, dois nomes pelos quais o autor se refere. Difícil guardar todos eles, principalmente por serem tão difíceis de serem pronunciados.

"Todas as famílias felizes são iguais. As infelizes o são cada uma à sua maneira."
Tantos nomes e descrições longas (e às vezes inúteis) fazem de Anna Kariênina uma experiência não tão prazerosa. Divagações de alguns personagens, como Levin, chegam a ser chatas e maçantes. Das 654 páginas, muitas poderiam ser retiradas sem afetar em nada a história. As edições brasileiras têm alguns problemas de tradução, o que não é culpa do autor, mas ajuda o leitor a não gostar do livro. A que li tem letras miúdas que deixam a leitura cansativa.

Não culpemos Tolstói por minha experiência com Anna Kariênina. Fui com expectativas altas depois de ver o filme com Keira Knightley no papel de Anna. Talvez devesse ter começado por contos, com doses homeopáticas de literatura russa antes de embarcar num romance de quase 700 páginas

*Na edição lançada pela Cosac Naify, em 2010, lê-se Anna Kariênina. Em outras edições, temos Ana Karênina ou Anna Karenina. O nome do autor também foi traduzido de várias maneiras: Liev, Leo, Leon e Tolstói ou Tolstoy. Use a que quiser.




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